Transubstanciar é uma palavra difícil. Antes de dizer o significado é bom lembrar que é uma palavra boa para falar quando se está muito bêbado, ou quando se está com  a boca cheia de farofa, e melhor ainda, é falar quando está bêbado e com a boca cheia de farofa. Transubstanciar é transformar uma substância em outra.      Quando da minha entrada no Teatro do Pé, em abril desse ano, que os mais interessados podem saber mais detalhes no meu depoimento “A Nona Jornada” escrito para esse mesmo blog, o grupo estava em pleno estudo das experiências cênicas do homem de teatro italiano Dario Fo.    Dario Fo é um animal polivalente do teatro. Ele é pesquisador, dramaturgo, ator, cenógrafo, empresário (apesar de não mexer em dinheiro há anos, tarefa que foi terceirizada para sua esposa, igualmente polivalente Franca Rame), encenador, cômico, contador de histórias e por fim ator. Ele conseguiu resgatar, reconstruir, recriar e, porque não, retransubstanciar (falar essa com um caqui verde na boca, fica demais) diversas tradições do teatro europeu da idade média, principalmente o da Itália; zanni, fabullatore, commedia del’art, jograis. Cada um com seus elementos e características que passam por diversas transformações há gerações.Dario Fo acabou construindo uma linguagem profundamente conectada com as suas raízes e que consegue, a meu ver, sintetizar todos os elementos em uma substância principal: o improviso.Em seu teatro o improviso é sagrado. Mas não é o improviso do “caco”, do esquecimento, é um não-improviso. Uma pré-disposição, uma pré- preparação. Tudo é incorporado pelo teatro de Dario Fo; espirros, acasos, falhas e criações espontâneas. Os textos são quase sempre roteiros indicativos e não peças literárias.      Mas não é “mágica”, é técnico, sem deixar de ser espontâneo.  E seguindo a orientação do próprio Dario Fo, (que quando soube que iríamos montar uma versão da sua História da Tigresa, nos ligou para desejar “merda” e perguntar se ele iria ter direito a ingresso grátis), o Teatro do Pé investigou essas técnicas e acrescentou as nossas raízes de cultura popular brasileira, além de outras soluções técnicas que escolhemos para garantir uma comunicação fluída com o público. O resultado dessa pesquisa então é a tão aclamada transubstanciação da História da Tigresa no Causo da Onça. O nosso texto (escrito pelo dramaturgo Olavo Dadá O’Garon) acabou ficando propositalmente livremente inspirado na obra de Dario Fo. Digamos assim, ficou um improviso. Ao meu suspeito ver, de muito bom gosto.Para quem estiver curioso para acompanhar esse processo, nós apresentaremos uma cena do espetáculo no dia 23/04/07 (mais detalhes acesse o link agenda nesse site). Já dá para se ter uma grande idéia desse nosso processo transubstanciador. Pois como diria um amigo meu; “Um ninho de amafagafos que nãos se transubstancia, acaba desamagafiando em destransubstanciação congênita” (e olha que esse meu amigo é ventríloquo) . Não deixem de acompanhar todo o processo de transubstanciação da História da Tigresa em o Causo da Onça. Com previsão de estréia para Outubro. É isso.




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