Os Fofos Encenam é uma grande companhia de teatro. Cerca de quinze artistas (nem eles sabem ao certo quantos são) compõem esse grupo, que já realizou montagens com “Assombrações do Recife Velho” e “Deus sabia de tudo e não fez nada”. Para a Mostra de Coletivos Teatrais do Sesc Companhia trouxe o alucinante “A Mulher do Trem”, dirigida por Fernando Neves, fruto de um texto achado no baú de sua família. Conversamos com o diretor Fernando (que chegou depois) e com a atriz Érica Montanheiro (que chegou primeiro) logo após a apresentação em 15 de Julho de 2007.


Fernando Neves

Erika Montanheiro

Blog do Pé – Há quanto tempo existem Os Fofos?
Érica –
Acho que desde 92. Mas ainda na Unicamp, e depois em São Paulo a partir do espetáculo “Deus sabia de tudo e não fez nada”.

Pé – E hoje vocês são em quantos?
Érica –
Acho que somos em 15. É que nós somos muitos…

Pé – Como você consegue resumir o que e a companhia dos Fofos em Cena enquanto busca estética, busca artística, como é que você caracteriza?
Érica –
Acho que são as duas coisas. Essa pesquisa que começa pelo Newton, que começa no “Assombrações do Recife Velho”, e essa questão do circo que é muito forte, por que o Fernando é descendente direto de artistas circenses. E ele vai chegar e vai poder falar mais…

Pé – Pode chegar, senta ai…
Érica –
E ele vai falar tudo agora!

Fernando – Agora eu falo tudo e não escondo nada!

Pé – Você contou na vivência da tarde, sobre sua ligação com o circo-teatro e especificamente no caso de “A mulher do trem” que é um texto que você achou no acervo de sua família.
Fernando –
Então! O texto “A Mulher do Trem” é do século 19 e é francês. Dos autores Maurice Hennequin e George Mitchell, e é o seguinte… os circos tinham um trunfo assim de repertório. Por que na época, não tinha como gravar, como filmar, nem nada. Então as companhias tinham o seu repertório. E isso era um trunfo! Então quem quisesse ver “A Mulher do Trem” ia lá no circo. Textos nacionais, não. O meu avô era português, ele tinha um contato com Lisboa e Paris. Então eles trouxeram adaptado esse texto e estrearam na década de 20 e sempre fez muito sucesso! E, é óbvio, não é o que vocês vêem hoje. De jeito algum. Por que tinha outro tempo. Por exemplo, eu para adaptar esse texto cortei muito, por que essa história tem muito quiprocó, muita intriga. Muita carta que entra e sai, o texto é muito mais explicado, por que a platéia não entendia. Eu pensava. Mas pra que essa cena que explica toda… já está claro isso! Então para a platéia tinha que falar tudo; porque que tinha mandado a carta, qual o propósito de fazer, de contar essa história, o por que das coisas. Era tudo muito explicado. A platéia não dominava esse código teatral. E, por exemplo, essa história de passar o tempo, tinha que baixar a cortina, trocar o cenário. Isso tudo tinha que fazer no circo. Isso tudo tinha doze atos, eram doze atos. E principalmente, como a base é o melodrama, sempre tem um personagem que tem que resgatar sua honra. Então se passam assim 20 anos. Então o que eles faziam, tinha que baixar cortina, trocar cenário, trocar roupa, maquiagem, botar o cabelo branco. Senão a platéia não entendia e falava: Ué? Passaram-se 20 anos e nada aconteceu? Então nessa adaptação eu cortei muito texto. Por que era extremamente explicado…

Pé – E o elemento do piano é original?
Fernando –
Não, não! No circo eu trabalho com a música, por que a música no circo-teatro é muito importante. Eles tinham um regional que eles chamavam de regional, e esse regional não faz aquela coisa de pontuar a idéia, dar o tempo. Eles usavam mais o regional para dar o tema do personagem, para dar o clima para a cena, pra pontuar uma piada, mas não dessa forma. Agente usa pra tudo, pra dar tempo, revelar pensamento, o tema, pra dar chão para o personagem, pra dar o clima pra cena… a gente usa o piano pra tudo!

Pé – Dessa pesquisa específica do circo-teatro, vocês montaram dois espetáculos. E tem projeto de continuar com as pesquisas? Já existe estudos de texto?
Fernando –
Sim com certeza! Então o que agente quer fazer, se agente ganhar o Petrobrás. A gente vai fazer um projeto chamado “Santoro Vanna Neves”, que é a vida da minha família. Pois todo o mundo era artista né? É… o Santoro casado com os Neves, que eram do circo. Depois se juntaram aos Vianna. Os Vianna se juntaram aos Santoro antes, em 1910. Quando o meu avô passou por Minas e conheceu minha avó, mãe da minha mãe. Era 1910. Quer dizer, meu avô, pai da minha mãe, já estava no circo desde 1905. Era coisa muito antiga. Então eu e Newton Moreno vamos escrever uma saga. Vamos escrever essa trajetória do circo no final do século 19, até meados do século 20. Mas assim, falando das ditaduras, de guerra, de febres, de gripe espanhola. Toda essa história do Brasil…

Pé – E como isso afetou essa estirpe…
Fernando –
O que acontecia com o circo? Por que eu me lembro de todas essas histórias que eles contavam. Minha avó contando em 1918 da gripe espanhola. O absurdo que era… O circo vazio, as pessoas tinham medo. E eles ajudando a recolher os mortos nas ruas. Quer dizer, através do circo agente vai contar esse momento da história, do Brasil e do mundo, né? Falar da guerra, das revoluções, de 32…

Pé- Pra teorizar um pouco, vamos falar de “A Mulher do Trem”, que é o caso de hoje. Que grau de comunicabilidade você acha que esse espetáculo atinge um público que hoje mais plural do que o público de antigamente. Hoje o público assiste TV, tem Internet, todos tem um ritmo de vida um pouco mais alucinado.
Fernando –
Com toda a certeza! Inclusive quando agente pensa circo antigamente, se pensa que começou com uma pantomima, que é uma coisa muito simples. Por que eles não tinham rádio, se pensa Brasil por esse sertão ai, eles não tinham comunicação alguma. Então, por exemplo, uma simples pantomima, a platéia já vinha abaixo por que vê uma representação de uma coisa que é absolutamente mágica e que eles não tinham acesso a isso. Então, essa platéia foi sendo conquistada. Era uma platéia virgem mesmo! Hoje em dia, não. Você dá uma virada e diz assim: Já se passaram 100 anos. A platéia entende e embarca naquilo.




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6 Comentários para “Entrevista com Fernando Neves & Erica Montanheiro da cia. Os Fofos Encenam”

  1. 1 silmara

    gostaria de saber se o texto de newton moreno “Assombrações do recife Velho” está disponível em algum site.

  2. 2 joao

    o grupo tem site? ou e-mail? obrigado

  3. 3 Josué

    Gostaria de obter o texto da peça “Ferro em Brasa”. Como deverei proceder? Fiquei muito surpreso em saber que essa Cia. Os fofos Encenam apresentam essa peça. Há um tempão que tento conseguir esse texto.

  4. 4

    Amigos tem um website focalizando os Fofos Encenam.

    É site cultural Sunrise Musics:

    http://www.sunrisemusics.com

    Se tiver medo de vírus digita “sunrise musics” no Google, o site será o primeiro que aparecerá

  5. 5 therezinha de campos

    fiquei fã dos fofos ao assistir Assombrações do Recife Velho no Casarão do Belvedere e agora Ferro em brasa. Estou precisando do E-mail do grupo, por favor.

    obrigada
    therezinha

  6. 6 kauan de sousa pereira

    bom gostei muito do trabalho de vcs e muito bom cara sou aqui de porto nacional e precisamos urgente de uma peça de vcs TICA NOS TE ACHAMOS
    RSRSRSRSRS sua capacitaçao foi inesquecível espero te ver de novo abraço !!!!!!!!!!!!!!!!!!!1