Transcrição(enxugada) da entrevista concedida em 14/07/2007

André Garolli é ator do grupo Tapa e diretor da Cia. Triptal, que participa do Fit-São José do Rio Preto 2007, com o espetáculo Zona de Guerra.

Você pode falar um pouco sobre o projeto da Triptal, no qual se
insere o espetáculo Zona de guerra?

O projeto chama “Homens ao Mar” e visa montar 4 peças do O´Neill, escritas no começo da carreira dele, entre 1912 e 1919. São eles “Rumo a Cardiff”, “Zona de Guerra”, “ Longa Viagem de Volta Para Casa” e “Luar sobre o Caribe”.

Dentro desse projeto há alguns pontos que a gente gostaria de discutir. Um deles é o universo masculino. Nas 4 peças são os mesmos personagens e na sua grande maioria são masculinos. A questão é: Homens confinados por um longo período de tempo, como
convivem e lidam com isso?

Um outro ponto é o início de uma pesquisa de espaços um pouco mais alternativos, e com isso eu me refiro desde da idéia de um teatro feito na rua, como o feito dentro do palco italiano, mas usando estruturas alternativas desse espaços.

A gente também quer trazer a discussão sobre se o autor, no seu início de carreira, já tem que ser genial. Pois muitos dramaturgos engavetam suas primeiras experiências e desistem da profissão, quando eles só se tornariam grandes se particassem. As peças desse projetos mostram que o O´Neill do começo, não era o O´ Neill do “Longa Jornada Noite Adentro”.

E o quarto tópico, que a gente está começando a desenvolver agora, é a tragicidade no mundo contemporâneo.

E como você sente que estes temas se relacionam com a
contemporâneidade BRASILEIRA?

No Zona de Guerra, por exemplo conta-se a história de um marinheiro que, numa atitude suspeita, muda de lugar uma caixa preta. Isso causa um clima de desconfiança na tripulação, pois o eles estavam, durante a segunda guerra, num navio civil que contrabandeava minução. O clima já era muito tenso. Nesse contexto a atitude desse marinheiro(o da caixa), é tida como a de um espião e ele é quase morto pelos seus companheiros…

O que se relaciona com a questão do terrorismo na atualiadade?

Isso mesmo. Pois hoje, o Bush vai e instala uma guerra preventiva. Isso é uma inversão de valores. O que legitíma a invasão de um país para evitar ser invadido?A ação mais extrema como a primeiro ato, não como o último recurso.

Exatamente, a gente fez uma apresentação na periferia, na qual uma senhora nos falou que se admirava do autor ter escrito esse texto em 1912, pois aqui a polícia nos trata primeiro como culpados, para depois ver se a gente é inocente.

É a política do medo.

É isso aí , a gente estudando viu que a grande ferramenta de opressão e domínio é o medo.

Bom, mudando de assunto, eu vi na ficha técnica de vocês que vocês trabalham com uma série de preparadores: de clown, de movimento, de percepção, etc… Eu quero saber como essas diversas competência trabalham em conjunto na Cia. e como vc como diretor lida com essas influencias? E emenedando no assunto eu pergunto o que permancece desse treinamento no resultado final?

Os atores e os treinadores brincam que o meu papel é o do vampiro. O que eu faço é, pra evitar que eu entre num pocesso muito pré-comcebido, eu chamo esses treinadores pra que eles contribuam com a visão deles do tema. Eles olham o texto pela ótica deles. E nos primeiros três meses eu só assisto. Eu só participo nos dias de discussão.

Então cada um desses treinadores já trabalha a partir da dramaturgia?

Bom, eles trazem primeiro toda a bagagem deles, mas aí eles já vão olhar o que, nesse trabalho, se relaciona com o texto. Por exemplo, no trabalho do clown, a treinadora trabalhou o ridículo de 9 homens com medo de uma caixinha preta. O que fica na peça é o resquício dessas experiências.

E como funciona o treinamento de percepção?

São técnicas de relaxamento, de ouvir o seu eu-interior, de encontar o seu eixo.

Esse trabalho vem tendo uma visibilidade bem legal, vocês estão no festival daqui, estiveram em londrina e em curitiba, ganharam APCA, enfim, como vocês trabalham o projeto do grupo?

Eu acho que uma das discussões mais importantes hoje, é da questão dos meios de produção. Eu acho que a gente de teatro tem que ser objeto de estudos de admisnistração.

A Triptal, começou comigo e com o Wagner Menegari. E a gente trabalhou 13 anos, com eu pondo dinheiro(eu trabalhava como engenheiro mecânico) e a bilheteria primeiro pagava a dívida comigo e depois que a gente começava a dividir, sempre deixando 20 a 30% para o caixa do grupo.

Agora a gente começou a ganhar alguns editais e temos salários, ainda bem insuficientes, mas eu já pago todos os treinadores, a gente tem um local de ensaio fixo. O que temos é uma hierarquia de salários, os mais velhos recebem mais, etc. Então a gente consegue se estruturar para dar o mínimo de condições, pelo menos pro artista não pagar pra trabalhar.

O que a gente faz, também, é ensaiar a noite e sábados e domingos de manhã para permitir que os atores tenham outros trabalhos, pois é uma ilusão pensar que dá pra vivcer com os salários da Cia.

E uma coisa que as pessoas não levam em conta é que eu estou com esse projeto “Homens ao Mar” desde 2003 , eu só fui ganhar um edital em 2006. Durante três anos eu investi, demos o sangue pra uma hora começar a voltar. Por isso não concordo com as pessoas que não ganham e dizem que quem ganhou é por conhece alguém, etc… Eu posso dizer que eu trabalhei pra isso. Eu e o grupo.




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9 Comentários para “Entrevista com André Garolli da peça “Zona de Guerra””

  1. 1 Ariadne Amaral

    Oi..
    Gostaria de saber o site da Cia Triptal
    Procurei na web e não encontrei..
    Obrigada!

  2. 2 Vera Perossi

    Muito sério a questão da política do medo, q. está tão rente às nossas vidas e, muitas vezes, passa batido.
    Legal trazer essa questão do medo enquanto ferramenta de opressão e domínio.

  3. 3 Juares Gomes

    “Eu acho que uma das discussões mais importantes hoje, é da questão dos meios de produção. Eu acho que a gente de teatro tem que ser objeto de estudos de admisnistração.”
    “Por isso não concordo com as pessoas que não ganham e dizem que quem ganhou é por conhece alguém, etc…”

    Adorei a entrevista.
    André, acho que nós do teatro devemos ser objeto de estudo de administração e principalmente de economia, que trata da melhor alocação dos recursos, e especialmente no mundo teatral a alocação dos recursos devem ser levadas em conta.
    E concordo plenamente que quem ganha é quem luta, e não quem perde tempo achando que quem ganhou foi porque conheceu alguem.
    Muito inteligente também a conotação do teu espetáculo, e pensamento denotativo.
    Parabéns!
    Juares Gomes

  4. 4 Thiago Paciência

    olá amigos, estudo Teatro na UFRJ e quero montar um dos textos do O’Neil desse período da dramaturgia dele que se chama CICLO DO MAR, alguém poderia me dizer como eu consigo os textos: LUAR SOBRE O CARIBE e o ZONA DE GUERRA? abraços,Thiago Paciência.

  5. 5 Thiago Paciência
  6. 6 Emerson

    otimo e eu e alguns amigos vamos tirar desse tema uma peça mimica para um seminario da escola ai nos vamos construir esta mesma peça mimica valew brigadão

  7. 7 Marcelo

    No site http://www.eoneill.com em “Library”, se ñão me engano, tem todas as peças no original.

  8. 8 creusa

    olá…gostaria de email ou telefone de um ator da cia triptal… seu nome é Kalil Jabbour e não estou conseguindo localizá-lo…
    grata

  9. 9 jose jorge

    andre garolli … gostaria do seu e mail…sou o jose jorge fui seu aluno no wolf em 2006… fui para o SENAC fiz 800hs (20 meses) tirei o D.R.T, GOSTARIA DE MANDAR UM CURRICULUM ,TENHO 50 ANOS, PILOTO DE AERONAVES E AGORA TAMBEM ATOR COM D.R.T,GOSTARIA MUITO EM ATUAR EM SUAS PEÇAS ,CUJO ALGUMAS JA ASSISTI, E ENCONTREI LÁ UNS AMIGOS QUE ESTUDARAM COMIGO (WOLF) ATUANDO.. CONRADO, GABRIEL,DANILO GALLO…ABRAÇOS A TODO ELENCO.. fico no aguardo jose jorge