O blog de notícias JE Informa tem uma interessante coluna sobre cultura chamada Aplauso. Os textos são de autoria da atriz e produtora gaúcha Silvana da Costa Alves que também publica seus “rabiscos”, como ela mesma diz, no blog Tartaruga Amiga e gerencia uma das mais interessantes comunidades (na minha opnião) sobre teatro no Orkut: “Discutindo Teatro no Brasil”. Vale a Pena conferir.
São admiráveis as pessoas que, nesses tempos de globalização e cultura de massa, ainda se colocam como portadoras do pensamento, em especial as que desbravam espaços para Ele.





Vocação

Há alguns dias eu postei uma carta que escrevi à uma jovem atriz, na qual eu falava sobre vocação para o teatro, isso me fez lembrar de quando eu comecei na profissão e de um amigo, da turma da época, que desistiu da carreira, ainda em gestação.

A turma, meio decepcionada, perguntou-lhe o motivo:

“- Me disseram que esse negócio de teatro era mó putaria, mas já tô nessa há dois anos e ainda não comi ninguém”

Nada mais justo.





Ontem acabei de ler o livro “Na Cia. Dos Atores“. Recomendo veemente. O livro reúne uma série de artigos, fotos e entrevistas sobre os 18 anos de uma das mais competentes e criativas companhias de teatro do Brasil, a Cia. Dos Atores.A qualidade do discurso de cada um dos integrantes da Cia. me surpreendeu. São atores que além de esmero técnico, estão comprometidos com uma filosofia artí­stica.

São seres pensantes de teatro. Artista e não só atores. Reúnem uma bagagem intelectual que é invejável numa época na qual o que impera em nossos teatros são, como diria Dario Fo, “animais de palco”.

Além, de um conteúdo excelente, a programação visual do livro é incrí­vel. Lindo, muito colorido (mas mantendo o bom gosto) e com inúmeras fotos, é um deleite aos olhos e à alma.





 
No dia 11 de janeiro de 2004, de acordo com o registro da 3º ata dos ensaios do Teatro do Pé, conhecemos o nosso atual dramaturgo Olavo Dáda. A convite do Danilo Nunes, o Olavo compareceu à reunião, na casa do Mateus Faconti, para conversarmos sobre as necessidades e expectativas do grupo em relação aos trabalhos que gostarí­amos de desenvolver em conjunto com um dramaturgo.É claro que, primeiramente, nos apresentamos e conversamos um pouco sobre o grupo, que era ainda muito novo, mas que começava a esboçar as metas que desejava alcançar.

Depois conversamos sobre a temática do primeiro trabalho que pretendí­amos desenvolver e como deveria ser o processo de integração do dramaturgo no desenvolvimento dos textos, sempre em conjunto com as construções e improvisações cênicas feitas durante os ensaios.

A presença do dramaturgo não seria necessária em todos os ensaios, mas em alguns ensaios chave, onde pudéssemos apresentar parte do trabalho cênico desenvolvido e acumulado durante os ensaios anteriores, fornecendo assim o material bruto a ser trabalhado e lapidado. É claro que quanto maior o número de ensaios feitos com a presença do dramaturgo, melhor e mais orgânico seria o resultado da criação. No entanto, isso nem sempre foi possí­vel.

Acho que devido à falta de recursos financeiros, e à necessidade de cada integrante do grupo preencher o seu próprio tempo, de forma equilibrada, entre levantar os recursos necessários para o próprio sustento e o fazer artí­stico, não foi possí­vel ao Olavo estar presente da forma que seria mais adequada ao desenvolvimento dos trabalhos.

No entanto, isso jamais impediu que ele aplicasse o seu grande talento em conjunto com o Teatro do Pé desenvolvendo excelentes textos como: “A Maldição do Cercado” (em Argumas de Patativa), “O Causo da Onça” e “Desventuras Pródigas” (nome provisório).

Nessa mesma reunião, também conversamos sobre a necessidade da entrada de uma atriz no grupo, o pré-requisito de que todos possuí­ssem DRT garantindo a situação profissional do grupo, a necessidade de parceiros para aulas de canto, violão e percussão e a necessidade futura do trabalho de um diretor musical. Todos objetivos já alcançados, com exceção do parceiro de violão e percussão.





Há uns dois anos atrás recebi uma mensagem de uma jovem atriz em busca de conselhos. Ela estava no momento de decidir qual rumo tomar em sua vida profissional. Estava insegura e indecisa. Não sabia se deveria dedicar-se inteiramente ao teatro ou se fazia uma faculdade em outra área. Adorava teatro, mas seus pais eram contra. Abaixo transcrevo a mensagem que lhe mandei em resposta:

Cara Alessandra,

Sinceramente não imagino que comentário eu possa ter feito para conquistar tua confiança a ponto de vir pedir-me conselhos, porém eu quero te dizer que ainda sou jovem (29 anos) e o que eu sei de teatro ainda é muito pouco. Por outro lado, vivo profissionalmente de teatro há dez anos, sustentando uma casa, famí­lia, filho, etc.. Portanto dentro do que me for possí­vel farei o melhor para te aconselhar.

Um famoso poeta chamado Rainer Maria Hilke, em seu livro “Cartas A Um Jovem Poeta” responde, mais ou menos assim, a um rapaz que lhe pergunta se tem talento e deve seguir a careira de poeta:

“Faça a si mesmo a pergunta, me é possí­vel ser feliz sem escrever? Se a resposta for negativa então faça da sua vida testemunho de sua necessidade.”

Eu, devido a inúmeras decepções me afastei do teatro por quase dois anos. Toda vez que eu passava perto de um teatro, algo me doí­a fundo. Eu tinha saudade do cheiro das coxias, do esforço da montagem dos cenários, de acordar cedí­ssimo pra viajar. Esse anseio foi bem maior que a minha decepção e voltei ao teatro muito mais decidido a fazer deste a minha eterna profissão.

O mercado é ingrato, a grana é curta, mas as realizações (e as frustrações ) são imensas. Quanto a mim não há mais o que fazer, sou cativo do meu amor por minha arte e minha vida é o exercí­cio deste fascí­nio. Existem caminhos mais fáceis, eu desconheço uma profissão que traga tanto sofrimento (e alegrias) quanto a do ator. Mas EXISTEM formas de se viver de teatro.

Em primeiro lugar, saiba que não é fácil. Uma pessoa que queira fazer da arte sua profissão precisa se fazer muita dinâmica e auto-disciplinada, pois precisa correr muito atrás das oportunidades existentes e principalmente criar novas oportunidades. Com rarí­ssimas exceções, para se viver de teatro é necessário ser, além de artista, produtor. Criar, desenvolver e (principalmente) vender projetos que sustentem sua arte é o meio que eu conheço para conseguir viver de teatro.

Alessandra, escolher os rumos de nossa vida não é uma decisão fácil. E este momento que você vive merece reflexão. Não deixe de ouvir seus pais, eles já passaram por muita coisa e a experiência deles, mesmo que você trilhe outros caminhos, pode lhe ser útil (quanto mais velhos ficamos, mais reconhecemos a sabedoria de nossos pais); mas saiba, sempre, que é você que vai viver as conseqüências de suas decisões. Portanto, procure saber o que você realmente quer, pois cada profissão que você escolher tem seus benefí­cios e pesares. Boa sorte, coloco-me a disposição para o que eu puder fazer por você,

Um abraço,

Mateus





O que busco na arte (ainda estou muito longe de conseguir), não é um novo teatro, mas um Teatro que nos coloque em contato com o Novo. Novo, não no sentido de novidade, mas no sentido de renovação. Através do contato com o eterno, com o mito, com o ser humano integral, nos fazemos novos, alimentamo-nos de algo que nos torna novos. Esse Teatro merece letra maiúscula não por ser utópico, mas por existir em um ní­vel muito acima das experiências cotidianas.





O conceito de originalidade me parece um tanto distorcido na atualidade, funcionando quase como um selo de qualidade. É como se algo, por ser original, tivesse um valor simplesmente por isso. Vejo essa situação como um ví­cio de uma sociedade sedenta por inovações.

O que mais me toca como artista é uma leitura dialética da palavra original, não só o que dá origem, mas o que nos leva a origem.

Na verdade sabemos que na arte não se cria nada realmente novo. O máximo que conseguimos é um novo arranjo de elementos antigos. Mas realmente, algumas vezes, esses novos arranjos criam espetáculos sem precedentes, inusitados, mas nem sempre bons ou necessários. Existem idéias tão estúpidas que ninguém, antes de um imbecil original, cogitou colocá-las em prática.





Dica de Site

O site Viva Santos (www.vivasantos.com.br) é uma ótima ferramenta para se conhecer todas as opções que a cidade oferece em termos de cultura, lazer, turismo, serviços, etc… Na parte que aqui nos interessa, cultura, o site traz um guia bem completo da programação de teatro, cinema, shows e exposições que acontece na cidade, além de informações bem precisa sobre horários e preços.

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A literatura de cordel é uma espécie de representação da cultura popular escrita, em formato de poesia, impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Ganhou este nome, pois é exposta ao povo amarrados em cordões, que são estendidos em pequenas lojas de mercados populares, feiras, praças ou até mesmo nas ruas. Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e história de uma época.

Em meio à ficção resgatam-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos, linguagem, arquitetura, etc. Esta literatura chegou ao Brasil através dos portugueses, na segunda metade do século XIX, e aos poucos foi se tornando popular. O objetivo de mostrar esta literatura é trazer, não só aquilo que todos conhecem, mas também curiosidades, tais como: as variações da metrificação deste estilo, os grandes escritores, bem como informar a existência da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Demonstraremos, com isso, a existência de estudos especí­ficos sobre a estrutura narrativa por temas/estórias, uma possí­vel classificação de perí­odos e também que esta forma de escrever influenciou alguns escritores brasileiros, a saber: Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto. Convém ressaltar que tal literatura também é utilizada no nordeste como forma de alfabetizar e em outros estados brasileiros, por alguns professores, como forma de introduzir a poesia e a literatura para crianças.

Proporemos desta forma apresentar alguns exemplares para manuseio e leitura, afim de despertar o interesse na comunidade cientí­fica acerca do aprofundamento destes estudos. Os futuros educadores da lí­ngua portuguesa devem ter motivação em buscar fenômenos literários contemporâneos desenvolvidos no Brasil, ainda que estas sejam predominantes em algumas regiões. Com base nesta exposição trazer à tona a interatividade lingüí­stico/cultural da Lí­ngua Portuguesa.

“Preste atenção por favor
na história que vou contar
ela explica o que é cordel
grande manifestação popular.”

( Paulo Araújo )

A literatura de cordel, aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Trata-se de uma poesia folclórica e popular com raí­zes no nordeste do Brasil. Consiste, basicamente, em longos poemas narrativos chamados romances ou histórias impressos em folhetins ou panfletos de 32 ou, raramente, 64 páginas que falam de amores, sofrimento ou aventuras, num discurso heróico de ficção.

Em todo o mundo, desde tempos imemoriais, a grande tradição da literatura culta correspondeu à transmissão oral de contar histórias em praças públicas ou teatros reais. Quando surgiram as máquinas impressoras, a divulgação dessas obras de pequena tradução literária estendeu-se a um número maior de leitores: algumas eram escritas em prosa a maioria, porém, aparecia em versos, pois era mais fácil, a um público analfabeto, decorar versos e mais versos, lidos por alguém.

Esta foi brevemente a trajetória daquilo que se chamou, na França, Literatura de Colportage (mascate); na Inglaterra Chapbook, ou balada; na Espanha Pilego Suelto, em Portugal, Literatura de Cordel ou folhas volantes. No Brasil e também na América espanhola a mesma trajetória foi seguida. Também aqui se conta e se canta em prosa e verso. Há em todo o paí­s uma longa tradição e a presença sempre atuante de cantorias, improvisos e desafios: os poetas populares dizem , em versos, suas mágoas, alegrias, esperanças e desesperos do dia-a-dia.

“E depois de achar o mote
que o cordelista procura
Qual o tamanho do verso e
como é sua estrutura?”

Os folhetos de cordel possuem um número variável de páginas: 8, 16, 32 ou 48. Os dois primeiros tipos são, geralmente, destinados a contar algo ocorrido na região – os chamados versos noticiosos. Os mais longos são romances, que narram histórias de ficção ou da carochinha. Os versos são escritos em sextilhas ““ estrofes de seis linhas com sete sí­labas poéticas cada uma com o seguinte esquema de rimas: AXBXCX, raramente são escritos em setilhas AXBXCCX ou décimas, que obedece ao esquema de rimas já consagrado na categoria de viola: ABBAAXXOOX

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Néya Maciel, graduanda do segundo ano do curso de Letras pela CEULAR (Centro Claretiano) em Batatais-SP, iniciou sua pesquisa sobre a Literatura de Cordel em 2006, a qual pretende utilizar como tema de seu TCC em 2008, sugerindo que o Cordel não é somente um folclore popular, divulgando assim sua história, seus representantes e a evolução desta modalidade literária.





“Há que junto com o cordel
sempre tem uma figura,
o que danada é essa imagem
chamada xilogravura?”

Costuma-se associar o folheto à ilustração em xilografia que aparece em sua capa. Mas estas ilustrações são relativamente recentes. De iní­cio, o folheto apresentava na capa apenas a indicação da autoria, o tí­tulo e um ou outro ornamento tipográfico. Na contra capa, vinha o endereço do autor, que quase sempre era também o vendedor de seus folhetos. As capas dos folhetos são tingidas em tons de verde, amarelo, rosa e azul e trazem uma xilogravura ““ resultado da impressão feita com uma espécie de carimbo talhado numa matriz de madeira. A técnica já era conhecida na antigüidade e foi utilizada na Europa no século XV para ilustrar cartas de baralhos e imagens sacras. De lá veio para o Brasil em 1808, com a Imprensa Real Portuguesa. No nordeste, a arte alcançou tamanho destaque que muitos xilogravuristas se tornaram famosos tanto quanto os autores dos versos. Artistas como os pernambucanos J. Borges e Silva Samico que são conhecidos em todo o mundo. O primeiro, apontado como um gênio da arte popular, já percorreu vinte paí­ses europeus, onde ministrou oficinas e palestras sobre xilogravura e cultura do cordel com ajuda de tradutores. Já Samico foi professor de xilogravura na Universidade Federal da Paraí­ba e teve 200 peças de sua produção reunidas em exposição na pinacoteca de São Paulo, em setembro de 2004.

“E quais são os grandes temas
e os melhores autores
desta arte tão ferina
que não poupa nem doutores?”

“O cordel foi e continua sendo uma das formas de comunicação mais autênticas nas pequenas cidades na região nordeste “- explica a escritora Clotilde Tavares. Assim que um fato relevante acontece “ como a vitória do Brasil em uma copa do mundo, a morte de alguém famoso, uma grande enchente ou mesmo um caso de adultério “ os cordelistas produzem um relato extra oficial, popular e poético dos fatos. Em poucas horas, o livreto é impresso, ilustrado e colocado à venda em feiras, pendurados em cordões. Daí­ vem o nome : Literatura de Cordel. O leitor, no entanto, se refere ao livreto como folheto ou verso de feira.”

“E na escola, seu mestre
o que é possí­vel fazer
com os alunos curiosos
para o cordel aprender?”

Outro papel importante exercido pela literatura de cordel diz respeito à sua função como auxiliar de alfabetização. Sabe-se que incontáveis nordestinos carentes de alfabetização aprenderam a ler por meio de folhetos. E, desta forma, cresce, gradativamente, o interesse de estudantes e educadores, em todo o Brasil, pela literatura de cordel para este fim e das muitas maneiras como o folheto pode ser utilizado em sala de aula.

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Néya Maciel, graduanda do segundo ano do curso de Letras pela CEULAR (Centro Claretiano) em Batatais-SP, iniciou sua pesquisa sobre a Literatura de Cordel em 2006, a qual pretende utilizar como tema de seu TCC em 2008, sugerindo que o Cordel não é somente um folclore popular, divulgando assim sua história, seus representantes e a evolução desta modalidade literária.