A Primeira Vez, Sempre A Última Chance.
0 Comentários Publicado por Mateus Faconti em 25 de abril de 2007 em Filosofia, Público, Pensamentos, Teatro.Acredito que o teatro e a dança são as únicas formas de arte que têm todos os seus repertórios (histórico e mundial) avaliados por uma única apresentação, a primeira. Eu sempre tomo o máximo de cuidado ao convidar para um espetáculo, pessoas que quase nunca vão ao teatro e um cuidado ainda maior ao convidar os que nunca assistiram uma peça (e olhe que são a grande maioria). Isto porque o teatro só tem uma chance.
Eu nunca vi uma pessoa que, após ouvir uma canção que não seja do seu agrado, decrete que não gosta de música; ou alguém, após uma sessão mal sucedida de cinema decidir que nunca mais assistirá um filme. Mesmo as artes plásticas, quem vê um quadro que não goste e diz que quer distância de pintura? Mas com o teatro é exatamente isso que acontece.
Em primeiro lugar, a maioria das pessoas não gosta (ou gosta) de teatro sem nunca ter presenciado um espetáculo teatral. Muitos julgam o teatro pelo programa “Sai de Baixo” que graças a Deus parou de ser transmitido pela rede Globo.
Por quê? O que tem o teatro de tão diferente de outras formas de expressão artística, que impede as pessoas de se permitirem definir um gosto pessoal? Que as impede de gostar de monólogos expressionistas ou de esquetes ligeiros ou de circo-teatro e não gostar de comédias populares ou de espetáculos de Butô? O teatro é uma arte que possui tanta ou mais variedade estilística do que qualquer outra, então por quê o público ao ver uma peça monótona, espalha aos quatro cantos que o TEATRO é chato; ou ao ver uma peça divertida anuncia que TEATRO é “muito engraçado”. Por quê?
Eu sempre desconfiei que muita gente quando pensa em ir ao teatro, sente a mesma preguiça enfadonha que lhes acarretaria uma ida à biblioteca ou um passeio ao museu (o que pra mim sempre soou estimulante).
Têm-se a imagem do teatro como uma manifestação artística antiga, não atualizada, como se todos os teatros do mundo só apresentassem Shakespeare ou tragédias gregas em montagens da Comédie Française (super tradicionais e engessadas); ou quando muito, a imagem do teatro da vanguarda brasileira dos anos 70, cheio de atores nus, gritando e se contorcendo, cuspindo e defecando no palco.
Eu compreendo alguns dos motivos que levam a esse analfabetismo teatral. O que me é difícil entender é por que as pessoas quando vão ao teatro pela primeira vez, junto com o seu primeiro ingresso, estão comprando a sua definitiva e imutável opinião sobre essa forma de arte? Opinião esta que servirá de argumento para nunca dar mais uma oportunidade ao contato com uma das mais vivas, intensas e marcantes experiências de comunicação humana.
Público (ou futuro público) se dêem mais uma chance!
Mateus Faconti
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