Acredito que o teatro e a dança são as únicas formas de arte que têm todos os seus repertórios (histórico e mundial) avaliados por uma única apresentação, a primeira. Eu sempre tomo o máximo de cuidado ao convidar para um espetáculo, pessoas que quase nunca vão ao teatro e um cuidado ainda maior ao convidar os que nunca assistiram uma peça (e olhe que são a grande maioria). Isto porque o teatro só tem uma chance.

Eu nunca vi uma pessoa que, após ouvir uma canção que não seja do seu agrado, decrete que não gosta de música; ou alguém, após uma sessão mal sucedida de cinema decidir que nunca mais assistirá um filme. Mesmo as artes plásticas, quem vê um quadro que não goste e diz que quer distância de pintura? Mas com o teatro é exatamente isso que acontece.

Em primeiro lugar, a maioria das pessoas não gosta (ou gosta) de teatro sem nunca ter presenciado um espetáculo teatral. Muitos julgam o teatro pelo programa “Sai de Baixo” que graças a Deus parou de ser transmitido pela rede Globo.

Por quê? O que tem o teatro de tão diferente de outras formas de expressão artí­stica, que impede as pessoas de se permitirem definir um gosto pessoal? Que as impede de gostar de monólogos expressionistas ou de esquetes ligeiros ou de circo-teatro e não gostar de comédias populares ou de espetáculos de Butô? O teatro é uma arte que possui tanta ou mais variedade estilí­stica do que qualquer outra, então por quê o público ao ver uma peça monótona, espalha aos quatro cantos que o TEATRO é chato; ou ao ver uma peça divertida anuncia que TEATRO é “muito engraçado”. Por quê?

Eu sempre desconfiei que muita gente quando pensa em ir ao teatro, sente a mesma preguiça enfadonha que lhes acarretaria uma ida à biblioteca ou um passeio ao museu (o que pra mim sempre soou estimulante).

Têm-se a imagem do teatro como uma manifestação artí­stica antiga, não atualizada, como se todos os teatros do mundo só apresentassem Shakespeare ou tragédias gregas em montagens da Comédie Française (super tradicionais e engessadas); ou quando muito, a imagem do teatro da vanguarda brasileira dos anos 70, cheio de atores nus, gritando e se contorcendo, cuspindo e defecando no palco.

Eu compreendo alguns dos motivos que levam a esse analfabetismo teatral. O que me é difí­cil entender é por que as pessoas quando vão ao teatro pela primeira vez, junto com o seu primeiro ingresso, estão comprando a sua definitiva e imutável opinião sobre essa forma de arte? Opinião esta que servirá de argumento para nunca dar mais uma oportunidade ao contato com uma das mais vivas, intensas e marcantes experiências de comunicação humana.

Público (ou futuro público) se dêem mais uma chance!

Mateus Faconti




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