Recentemente, no 4° Fórum Artí­stico da Cooperativa Paulista de Teatro, um assunto bastante discutido atualmente surgiu à tona – A busca de uma dramaturgia que se comunique com a nossa contemporaneidade. Eu já havia assistido a um debate sobre o mesmo assunto, no FIT de São José do Rio Preto e desde então venho pensando muito a esse respeito.

Indo além da questão da dramaturgia, a busca de um Teatro verdadeiramente contemporâneo é uma questão vital em um momento no qual temos cada vez menos público e nossa arte desperta cada vez menos interesse.
Em primeiro lugar, acredito que o teatro é uma arte que vai na contra-mão de uma série de preceitos que regem nosso tempo.

O teatro tem pouca capacidade de reprodutibilidade e, portanto, segundo Walter Benjamim é uma arte que tem pouca chance de sucesso na nossa era. O teatro exige a presença dos atores, em tempo real, podendo ser apresentando em um único local por vez, para um público limitado de pessoas. É artesanal num mundo digital.

O teatro exige que as pessoas se locomovam até um local de representação. Não dá pra pedir pelo disk ou pela internet, não dá pra pegar no drive-thru, não se materializa a um toque de controle remoto. Ele exige que o espectador se disponha a uma atitude ativa de sair de casa e ir ao encontro de outras pessoas.
O teatro exige concentração. Na era do videoclip, onde as imagens não se fixam por mais de três segundos; na era da internet, onde enxutí­ssimos resumos dão uma idéia geral do conteúdo que buscávamos nos livros; na era da televisão, onde os assuntos são absorvidos de forma absolutamente passiva; na era do cinema onde passamos de um vista aérea do Tibet para o interior de uma pensão de Moçambique em questão de segundos, o teatro exige que nos concentremos, durante mais de uma hora, em seres humanos, se movendo apenas na velocidade humana, falando apenas com os timbres humanamente possí­veis e com corpos de dimensões puramente humanas. Às vezes penso se não é pedir demais para, por exemplo, um garoto de 16 anos?

Então, que teatro é capaz de nadar contra essa maré e oferecer algo que nenhuma dessas outras mí­dias será capaz? O que o teatro tem de único para oferecer?
Minhas indagações tem me levado, cada vez mais, a aperceber que todas essas limitações expostas acima, são justamente o que o teatro tem de mais necessário. O teatro promove o encontro do homem como Homem. Mas com O Homem. Pleno, inteiro, concentrado, denso. Não com o homem alienado que vemos nos pontos dos ônibus e nas filas dos bancos. O teatro produz um encontro com o homem(ator/herói) que chegou a limites da experiência humana. Durante meses de laboratórios, ensaios, observações e reflexões, esse homem se muniu de tal conteúdo, de tantas experiências, chegou às margens de tantas coisas… E disso tudo escolheu os melhores 60 minutos para oferecer, em comunhão, a outros homens. Por isso o teatro, enquanto não corrompido pela vaidade, é um ato de Amor.

E é esse Amor que o contemporâneo precisa. É esse alimento que lhe faz falta. Não basta criarmos textos tratando de assuntos atuais, até mesmo essenciais ao homem de hoje, se não comungarmos com estes, uma experiência humana e intensa. Se não nos permitirmos essa troca direta, essa promiscuidade energética que só o teatro, entre todas as artes, é capaz de proporcionar.

Até o momento em que terminei de escrever este texto é assim que pensei. Mas a porta está aberta para novas descobertas e mesmo violentas contradições. Estou em movimento.

Mateus Faconti




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1 Comentário para “Teatro na Contemporaneidade”

  1. 1 sandra cordeiro

    Mateus, termino de ler o teu artigo e me sinto contemplada com as tuas reflexões. Nos que fazemos teatro, ou melhor, o papel do teatro, é justamente fazer esse contraponto, por isso somos e estamos na história. Podemos repensar esse “não ter público”, acho que sim, temos público. O que nos falta, talvez, é esse SER teatro, comungar nossos dizeres com os nossos fazeres. Acredito que TEM MUITA CHANCE, SIM. E é nesse desequilibrio que ELE contrabalanceia e se oferece no outro lado da balança. Somos a saida e a porta de entrada. Tua estás ai, eu aqui, acolá muitos de nós fazendo acontecer. Somos presença sempre, grandes ou pequenos, fortes ou cambaleantes. Somos, meu irmão, estamos, fazemos, buscamos, acontecemos.É isso.