Ouça a poesia ‘A Morte de Nanã’ na voz de Patativa do Assaré


Danilo Nunes no primeiro ensaio com luz no Teatro Rosinha Mastrângelo

A encenação da poesia “A Morte de Nanã ” e o seu consecutivo sucesso foi o que motivou o Teatro do Pé a investir mais na obra de Patativa do Assaré. Esse contato com a obra de um dos mais importantes poetas populares brasileiros que deu origem ao nosso primeiro espetáculo “Argumas de Patativa”.
Aqui reproduzo um texto que escrevi logo após a estréia da cena, relatando os processos de criação e as primeiras apresentações de “A Morte de Nanã”:

O processo de assimilação da cena “A Morte de Nana” (que já era um trabalho do ator Danilo Nunes) pelo Teatro do Pé foi bastante rico. O motivo que a originou foi a vontade do grupo de participar do I Circuito Paulista de Esquetes Teatrais para iniciarmos o contato com o público, pela experiência de ver nossos esforços circulando e para concorrermos aos prêmios em dinheiro (R$ 1.000, R$ 500 e R$ 300).

Então encomendamos um esquete de até 10 minutos ao nosso dramaturgo Olavo Dada O´Garon, que não conseguiu nos entregar a tempo um texto que nos agradasse. Ele até chegou a nos enviar uma proposta, inclusive finalizada, mas não atendeu nossas expectativas.

Portanto resolvi ver o trabalho do Danilo com o poema a “Morte de Nanã” e achei cansativo, monocórdio, forçado, parado, pobre e pouco tocante. Porém, apesar de tudo, o Danilo apresentava uma presença cênica (característica que ele traz) interessante. Quando ele começava a interpretar, o ambiente adquiria uma densidade diferente e a gente se via envolvido pela peça. Porém, o tédio e a concepção falha quebravam esse encanto a toda hora.

Ao iniciarmos o trabalho, eu rejeitei quase tudo que havia sido construído, mas procurei manter essa presença que eu considerei fundamental para o sucesso do projeto.

Iniciamos o trabalho, criando ações que pudessem ter força expressiva e imagética, pois o Danilo trabalhava o tempo todo sentado e segurando um terço com as mãos fechadas.

O personagem passou a enrolar um cigarro de palha enquanto contava a história e relacionar os seus movimentos com a filha, ele mesmo, o patrão, o enterro, etc. Ganhou alguns objetos como a faca ( para picar o fumo ), a bengala e a rosa (que ele está levando para a sepultura da filha).


Tronco, Cajado, Faca, Fumo e Flor (elementos cênicos da cena)

Decidimos, também, que o personagem deveria percorrer um caminho e com isso criou-se uma disposição para o esquete, ideal para o teatro de arena Rosinha Mastrângelo. O público se distribui dos dois lados deixando um corredor que é percorrido pelo ator

No inicio pensei em uma cenografia elaborado, com o caminho representando o chão rachado do nordeste, que ia se tornado cada vez mais verde até chegar a um gramado aonde haveria um grande oratório azul, contendo um vestido da menina.

Graças a Deus, o bom senso se apoderou de mim e fui limpando cada vez mais a cenografia. Terminamos com um grande oratório em madeira escura, no qual colocamos um vestido da menina, velas e imagens de barro representando cenas da vida da família (pai, mãe e Nana). Contamos também com três secções de árvore (tocos) nos quais o protagonista e os músicos/atores Wagner Bastos e Mateus Lopes(caracterizados de carpideiras), sentam.


Oratório

Veja as fotos das esculturas que decoram o oratório

No início dos ensaios, eu enfrentei bastante resistência por parte do Danilo em aceitar o método que eu propunha. Ele queria trabalhar de forma mais solta e menos estruturada, mas ele é muito desorganizado para isso. Então começamos a trabalhar milimétricamente.

Já no segundo ensaio ele se queixou de estar se sentindo um boneco manipulado por mim. Então eu comecei a lhe dar mais liberdade de criação, passando-lhe a responsabilidade de criar sua própria e detalhada partitura de ações. Rolou. Porém a resistência ao método continuava mas, com a ajuda do Wagner e do Mateus, consegui quebrá-la e prosseguir.

Um dos maiores desafios que enfrentamos foi a batalha para transformar um texto que, quando iniciamos tinha dezoito minutos, em uma esquete de dez (para atermo-nos ao regulamente do Circuito)

Depois de aproximadamente três semanas de ensaio, fizemos a nossa pré-estréia em Cubatão no espaço do Teatro do Caos. O resultado foi excelente, as pessoas se emocionaram e o silêncio durante a apresentação adquiriu uma qualidade maravilhosa. Após essa apresentação, nós organizamos um debate com o público que elogiou bastante.

O público prestou bastante atenção às carpideiras e gostou muito do trabalho do Mateus Lopes. Isso para mim foi uma surpresa, pois até então tínhamos trabalhado muito pouco a interpretação dos músicos.

Depois disso, colocamos o Wagner mais em relação com o espetáculo, afinamos algumas coisas e estreamos uma semana depois, com uma apresentação fechada para convidados, seguida de um debate. Para tal, convidamos todas as pessoas de teatro que nós julgamos que pudessem dar opiniões produtivas e isentas (sem rixas), além de amigos e familiares. Só apareceram os amigos, parentes e os atores da Cia. Etc e Tal. Sem contar a Ludmilla e a Andressa que pouco a pouco vem se tornado anexas ao grupo. No total devia ter umas trinta e cinco pessoas.


Debate com os convidados após a apresentação.

Esse dia a apresentação foi mais fria, mas o público gostou bastante. Porém diversas críticas (bastante construtivas) surgiram. A ação de guardar a flor no bolso foi criticada. O tempo curto da peça também foi colocado em questão entre outros tantos assuntos. Aproveitamos muito as críticas e refletimos sobre diversos pontos do espetáculo.

No dia seguinte apresentamo-nos no projeto Curto-Circuito ao lado da performance “Se eu gritar….” do Júnior Brassaloti e da peça “A Falecida” do Temetal com direção do Bellini. Foi muito legal, havia um público de quase duzentas e cinqüenta pessoas e o resultado foi bastante intenso. Nessa apresentação eu substituí o Wagner que estava de viagem marcada.

Umas duas semanas depois, eis que chega o Circuito Paulista. Nossa solicitação para apresentar no teatro Rosinha Mastrangelo foi atendida (graças a Deus!) e nós tivemos o teatro a nossa disposição desde as duas da tarde(a apresentação estava marcada para as oito).

O Mateus Lopes e o Conrado Pouza (nosso iluminador) chegaram lá as oito e montaram o cenário, preparam o espaço e afinaram a luz. O Conrado fez diversas modificações no plano de luz e ficou muito bom. Conseguimos aquela penumbra que pouco revela e muito contribui para o clima da peça. Fizemos uma apresentação excelente e público se emocionou bastante. Muito satisfeitos fomos ao debate. Nosso espetáculo foi muitíssimo elogiado pelos jurados e pelo público (entre eles diversos diretores e atores). A jurada chegou a dizer que perdeu o chão e se esqueceu como se andava após a apresentação. As únicas falhas, segundo a jurada, foram o vestido, que ela achou com muita cara de sudeste (discordamos) e a flor que era de plástico (concordamos e vamos mudar).


Debate com os jurados após a apresentação no I Circuito Paulista de Esquetes Teatrais

O excelente resultado perante o júri e à classe reforçou bastante a minha confiança em relação à qualidade desse nosso primeiro trabalho e sinto que podemos apresentá-lo em qualquer meio com bons resultados.

Na premiação ganhamos como melhor esquete, além dos prêmios de concepção plástica, iluminação, conjunto de elenco, melhor ator e melhor direção; todos os prêmios dados, com exceção de melhor atriz, que a gente não tinha.

Agora vamos continuar com as apresentação da Nanã, mas dedicar nossos ensaios para a nossa peça que ainda não tem texto. Help, Olavo! ”

Obs: A peça acabou sendo “Argumas de Patativa”

Ouça a poesia ‘A Morte de Nanã’ na voz de Patativa do Assaré




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5 Comentários para “A Morte de Nanã – O Início”

  1. 1 Daniel "Salsa" Lopes

    Olha eu ali de verde e cabeludo ao lado da Nattalia, igualmente cabeluda. Viu eu estava com vocês desde o começo.

  2. 2 Daniel "Salsa" Lopes

    Eu já estava ali. Desde o começo. De verde, cabeludo.

  3. 3 GIOVANI

    Boa noite!
    Em primeiro lugar parabenizo a cada experimento e dedicação que vejo em cada um de vocês só ao ler sobre este expetáculo que só em levar o nome de Patativa do Assaré já é motivo de aplausos. Estou fazendo pesquisa para montar justamente esse texto de Patativa e ao ler sobre vocês fiquei mais encantado pelo texto e admirador dessa turma do teatro do pé!Meus planos será para esse ano e já estou começando os primeiros passos para me estruturar e encarar esse desafio em minha região. Me desculpem,não me aprersentei. Sou de Caruaru-PE, meu nome Giovani Gomes.Fico feliz em poder ao ver esse maravilhoso trabalho de vocês e poder me motivar para ir em busca de projeto que tenho para esse ano. Muito obrigado pelo trabalho que me motivou mais ainda! Deus os abençõe e continuem sensibilizando cada espectador que apreciarem esse expetáculo! Aplausos para vocês!

    Um abraço e sucesso!
    Giovani Gomes

  4. 4 jozildo carlos pere

    Como sempre o Patativa emociona todos que cruzam seu caminho,através de suas obras,pois serão eternas, pois a memória nunca morre.
    Fica o meu muito obrigado a Patativa pois ele é e sera sempre alguém para se inspirar.bjos:

  1. 1 POA –1° Temporada – Epsódio 2 (agora sim fudeu) at Blog do Pé